Muitas vezes tiro uma horinha antes de começar a trabalhar, de acordo com a técnica que irei abordar para tal, fazendo uma espécie de aquecimento intelectual/artístico, se é que me entendem... Como uma espécie de alongamento antes dos exercícios físicos.
Assim sendo, faço desenhos ou pinturas descompromissadas com qualquer coisa que venha a ser profissionalmente comercial e aproveito desse momento para satisfazer o meu eu, sem aquela coisa de ter que desenhar só para clientes já que nós, artistas gráficos, quase nunca temos tempo de criar para nós mesmos.
Desta forma, aquarelei esse Calvin e Haroldo, do Bill Watterson que, para mim, é uma das maiores influências de todos os tempos em minha formação como autor de quadrinhos. Seja no humor, no universo inocente e irônico, fantasioso, nas discussões amorosas e nos contestamentos infantis ou nas técnicas de trabalho de Watterson, nos movimentos dos seus desenhos, nas pinceladas de nankin, nas aquarelas de algumas capas... Seja como for, o trabalho de Watterson sempre esteve - junto ao de Will Eisner e Laerte, por incrível que pareça - em primeiro lugar das minhas prateleiras cerebrais de grandes influências.
Fica registrado aqui minha homenagem a estes dois valiosos personagens de nossa literatura quadrinística, nessa fanart que foi o meu desenho de aquecimento de um domingo qualquer, pela manhã.
À seguir, imagens do processo. Desde os primeiros rabiscos com grafite azul, só para delimitar o espaço e marcar os movimentos das personagens e, conseguinte, o traço em grafite preto para finalizar a imagem. Depois, levei o rascunho a uma mesa de luz e transpus a arte para o papel aquarela.
Já que se tratava só de um aquecimento, usei um papel inferior, de menor custo (mesmo muitos defendendo que até para estudar deve-se investir em materiais de boa qualidade). Bom, concordo, mas prefiro usar e abusar de tudo o que estiver à mão e com isso escolhi pelo mais simples e mais barato.
Tracejado no papel para aquarela com lápis 6B e grafite vermelho B, 07, prendi o mesmo na prancheta com fita adesiva e borrifei água para hidratar o papel. Após alguns minutos, não totalmente seco, ainda úmido, comecei a pintar. Primeiramente, as cores de base, mais claras e, conseguinte, definindo os detalhes, pequenos volumes e pequenas sombras. Nada muito exagerado para não perder o sentido cômico da arte.
Espero que curtam essa parte do trabalho, também. O processo criativo, para mim, sempre é mais importante que o resultado final. O resultado final é só do cliente e, tenha certeza, ele vai querer que você mude algo.