
O que você precisa saber sobre criar uma base monocromática para sua pintura em aquarela antes de aplicar qualquer outra cor.
No método tradicional da pintura em aquarela, vamos trabalhando em camadas de cores que vão dos tons mais claros e transparentes (ao contrário de outras técnicas) aos mais escuros e até mesmo opacos, dependendo do grau de intensidade que desejamos dar ao resultado final. E o resultado final (não se falando ainda do processo de desenvolvimento da pintura) tão importante ou mais do que o processo, para quem está sempre procurando desenvolvimento, nem sempre se chega da mesma forma para todos. É como nos softwares de arte digital, onde você tem mil ferramentas e cada artista trabalha à sua maneira com ferramentas diferentes para se chegar a um mesmo resultado.
Nesse post sobre o processo de pintura monocromática, em alla prima, falo dos valores tonais que dão forma ao que se pretende pintar através de uma única cor. São esses valores que definem o volume, a dimensão, luz e sombra de um trabalho. Aqui daremos continuidade, complementando o que se disse e o que se fez com essas aquarelas em preto e branco lhes aplicando, por cima, camadas de cores. Técnicas que chamamos de grisaille, ou de outra forma, underpainting. Mas ambas são distintas, embora muito parecidas.
Mas, como isso é possível na aquarela, em se tratando de uma técnica transparente, onde as camadas de cores mais claras irão sobrepor as mais escuras? Sim, é possível, e o resultado final é tão natural quanto da mesma forma aplicada com tintas opacas.
Bom entender, antes de mais nada, que com as outras tintas, como óleo (a forma mais comum de se trabalhar o underpainting), a sua aplicação de cores sobre a pintura monocromática - não importando a sua cor base - é feito em pequenas veladuras de cores quase transparentes, o que não contribui para a perda total de sua base cromática, trazendo à luz as cores e mantendo a forma e o volume, sem muita interferência. Por isso tal técnica, apesar de minimamente usada em aquarela, é tão bem aceita pelas transparências da mesma.
A função do underpainting é justamente pronunciar os valores tonais antes das cores. Mas claro, não se trata só do preto (ao contrário do grisaille, que falarei a seguir), podendo trabalhar diversas cores e usar dessa base para se misturar os seus cromos e transformá-la em outras cores. Como aplicar o vermelho por cima do azul para se obter tons de roxo, por exemplo. E assim como na pintura à óleo, é ainda mais possível com a aquarela, por sua transparência.
No caso da técnica grisaille (grisalho, cinza) é praticamente da mesma maneira que se busca esses valores tonais para se obter a forma e volume da pintura, trabalhando os valores monocromáticos em preto e branco (na aquarela: preto sobre o branco do papel), e é desta forma que lhes apresento, aqui, dois estudos que fiz em cima do uso da técnica grisaille durante uma de minhas aulas de pintura em aquarela ministradas, como demonstrativo aos meus alunos, que também se arriscaram no processo.
As pinturas foram feitas em meu sketchbook, produzido pela Encadernadeira, com papel Fabriano 90g e de 50% algodão. Trabalhei as pinturas usando apenas quatro cores: Crimson Lake, Burnt Sienna, Prussian Blue e Permanent Yellow Light, da marca Holbein, dando pequenos toques finais com guache branca, da Royal Talens.
Notem, no decorrer das imagens (duas versões praticamente caricaturais), que não trabalhei com o processo de alla prima. Primeiro, rascunhei o desenho - baseado no retrato do pintor Albert de Belleroche (1883) pelo artista italiano John Singer Sargent, e da menina Jaques Barenton do mesmo pintor, do qual sou extremamente admirador - e, mantendo os tracejados a lápis, apliquei camadas de preto em diferentes valores de tonalidades, mantendo os valores já pré-estabelecidos pelo lápis, para obter o volume pretendido conforme o modelo. Só depois da pintura seca pus-me a aplicar as cores, em camadas bem transparentes (como é o caso da aquarela) até obter o resultado final, satisfatório, sem interferir na camada base, mantendo os mesmos valores tonais, mas resultando nas cores, algumas bem fortes e opacas, como os tons de fundo e trajes.
Confesso que no meu trabalho, comumente, nunca uso nenhuma das duas técnicas, como o underpainting e o grisaille. Portanto, faz-se necessário o conhecimento e uso das mesmas como estudo e aprimoramento de suas habilidades artísticas. Praticar as duas coisas pode até não ser do agrado e da necessidade da maioria dos aquarelistas - até porque, como eu disse, não é comum aplicar tais técnicas na pintura em aquarela - mas digo: é prazeroso, satisfatório e surpreendente. Muito mais do que tudo, surpreendente, porque você realmente não espera o resultado final durante todo o processo como pensaria que daria certo.












Experimente! Se lhe agradar, posta aqui nos comentários e vamos debater o assunto.
Espero que gostem e até a próxima!
Afagos do Laz
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