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a importância da qualidade das ferramentas de trabalho



Aaah, o sonho de consumo, essa ganância que nos invalida a moral, aqueles dois saquinhos que ficam bem ali embaixo...

Estou falando dos bolsos!

E artista, sabe como é, né? Não compra calça jeans, sapato bacana, óculos de sol de 3 mil reais, relógios, carrão... não vai pro pagodão, não viaja pra lugares tropicais, ensolarados... Não!

Tá, não pensem em artista que vai pra Trancoso, Arraial D’ajuda, Tomé das Letras... Tô falando daquele que compra livro e depois que compra muitos livros, compra mais, aí quando cansa de comprar livro, compra tintas e mais tintas e volta a comprar livros. Por fim compra uma bicicleta porque fica o dia todo sentado (e bicicleta dá pra se exercitar sentado) porque ele acredita no ócio criativo, mas precisa mexer mais a caveira e se mirar no horizonte.

Então, em vez de um paraíso tropical, lá vai ele: Louvre, em pleno inverno. Pimba! Moscou... Holanda... e dá-lhe livros!

Então compra mais tinta... papéis de 500 reais o metro quadrado, telas, pigmentos, canetas, pincéis e mais livros.

A gente chega na loja de artes e fica igual mulher louca dando faniquito em vitrine de lingerie e sapato! A mesma coisa! E chora! Chora e reclama que tá caro mas sai de lá falido e falando mal do vendedor e da mãe dele! Mas volta no mês seguinte quase querendo apertar as bochechas rosadas do infeliz.

E então chega em casa e não sabe por onde começa, fica igualzinho criança no Natal ganhando presente de tooodos os tios e tias, papai e mamãe... Ah, o artista com novos materiais de trabalho é uma criança numa piscina de bolinhas (na minha época e para a minha geração eu preferiria dizer uma piscina de Playmobill).

E me contento com pouco. Sério, sou bonzinho. Contento-me com muito pouco e só um estojinho de aquarela Holbein e dois pinceizinhos Série 7 da Winsor & Newton vão me fazer feliz por muito, muito, muuuuuiiiitooo...

...muito pouco espaço de tempo.

Quem trabalha com aquarelas como eu sabe muito bem do que estou falando.

Agora falando tecnicamente e profissionalmente sobre essas belezuras, aqui nesse link Roger Cruz dá uma resumida boa à qualidade das aquarelas (fazendo um bom comparativo sobre a solvência das tintas de mesma marca, mas de linhas distintas: estudante e profissional – e que fazem uma gigantesca diferença, acreditem), e sobre pincéis comenta do Série 7: “A ponta é uma agulha de tão precisa e eles acumulam uma quantidade surpreendente de líquidos.”, coisa essa que, infelizmente, até hoje não descobri em nenhum pincel nacional.

Nesse link, Marcelo Albuquerque faz um apanhado de diversas marcas de aquarelas, pelo mundo, e nos dá um comparativo e um estudo a fundo das diferenças entre elas, dentro de uma hierarquia de qualidade, para estudantes e profissionais, e uma aula super bacana sobre suas transparências, pigmentações, aglutinantes e toda matéria prima.

Sobre o Série 7,  resolvi buscar algumas informações picadinhas por aí na net e juntei tudo aqui nesse resuminho para que possamos entender melhor do que estamos falando:

Winsor & Newton desenvolveram, em 1886, especialmente para a Rainha Victoria, os pincéis Série 7 com o melhor e mais fino pêlo para se trabalhar, de Marta Kolinsky, para o uso com aquarelas por sua maciês, elasticidade, poder de absorção de água e tinta e sua durabilidade.

Considerado pelos grandes aquarelistas e grandes mestres um dos melhores pincéis do mundo. Eu mesmo tenho um nº20 que na época em que comprei custava em torno de 280 reais. Um detalhe que conto só para enfatizar a qualidade do mesmo, já que seu custo benefício é fundamental. O mesmo existe até hoje e nunca quebrou um pêlo sequer (pêlos soltos e quebrados são um desastre à parte para quem pinta com aquarela) e continua o mesmo há 22 anos, desde que o adquiri.

Esse pêlo é extraído do rabo da Marta Kolinsky, que vive no norte da Sibéria, Manchúria e Mongólia. Lembrando que o pêlo de Marta (apenas) vem da Marta vermelha, que não é tão bom quanto os pincéis de pêlos de Marta Kolinsky (foto), que faz toda uma diferença.

Viu só? Então, não dá pra sair por aí pintando com pêlos da crina de cavalo e da orelha do burro. Principalmente porque para o uso da aquarela exige-se extritamente o papel ideal. Mas falaremos dele em um próximo post e convido os amigos profissionais e estudantes da área pra debatermos, difundirmos e fomentarmos mais essas informações aqui descritas.







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